Desenhos a lápis, a tinta e em versão colorida para "Le Diable Noir", de José Pires & Benoît Despas (c) 2009 Éditions Orphie
Só ontem pude visitá-la e aconselho todos os interessados a fazê-lo nesta que é a derradeira semana.
Ilustração para capa do nº 1 da revista "Zorro" (c) 1962 José Pires
A organização do Festival achou por bem apresentar a exposição na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, Av. Conde de Guimarães (mais conhecida como “reta dos Comandos da Amadora”), 6 – Reboleira. O espaço que a acolhe não é a biblioteca propriamente dita mas a sala de conferências, a um canto do edifício.
O problema é que, não pondo em causa a dignidade desse espaço, é duvidoso que a maioria do público do Festival (que frequenta o núcleo central, no Fórum Luís de Camões) lá ponha os pés, em virtude da distância a que fica do Fórum; o que significa, na prática, que a maioria do público não verá a exposição.
Parece-me, sinceramente, que “50 anos de carreira” mereceriam melhor visibilidade e mais espaço. Mesmo assim, naquela sala de conferências, a mostra é representativa do percurso deste ex-publicitário – que faz questão de frisar que não é um “artista” mas um “profissional” – que se tornou um entusiástico utilizador e defensor das tecnologias digitais (“Freehand”, “Photoshop”, etc.). Já discuti muito com ele a esse respeito; das potencialidades, virtudes, limitações e armadilhas desses instrumentos (como de quaisquer outros, naturalmente, só que estes são extremamente poderosos e sedutores).
Última prancha de um western, original a tinta da china, (c) 1991 José Pires & Benoît Despas
Prancha de "Le Sang et la Gloire", original a tinta da china, de José Pires & Benoît Despas (c) 1991 Éditions du Lombard
Quero aqui render uma homenagem a José Pires, o “profissional” que passou pela publicação além-fronteira (Bélgica, França, Ilha da Reunião…) mas que da BD nunca tirou grandes proventos – a sua ‘verdadeira’ profissão era outra, em agências de Publicidade – e, não obstante, manifestou ao longo de tantos anos uma persistência e uma dedicação raras, que muitos “artistas” não teriam. José Pires acredita profundamente em si próprio, nunca deixa cair os braços apesar da aridez do meio da BD em Portugal e da dura adversidade no estrangeiro. E tem uma capacidade de trabalho notável e uma produtividade espantosa.
Nesse aspeto, eu próprio gostaria de ser mais “profissional”; mas José Pires, estimado colega e amigo, coloca-me na categoria dos “artistas”!...
Prancha de "Le Diable Noir", de José Pires & Benoît Despas (c) 2009 Éditions Orphie
É de referir, por fim, que José Pires manifesta em geral uma notável disponibilidade para apoiar aqueles em quem reconhece talento e para partilhar a sua visão da BD, as suas experiências e os seus conhecimentos gráficos.
Foi por intermédio dele – na altura, a trabalhar com o argumentista belga Benoît Despas para as Éditions du Lombard – que, em 1990, comecei a desenvolver com este último o projeto “Les Compagnons d’Alexandre”. Por força do destino, o projeto não vingou mas a atitude de José Pires, que eu mal acabara de conhecer e que me possibilitaria ‘entrar’ numa editora do gabarito da Lombard, isso é algo que não se esquece.
Um grande abraço, Gussy!
O recinto da exposição
[Fotografias de Luís Diferr]
* Sobre “Les Compagnons d’Alexandre”, neste blogue: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.