Desenhos a lápis, a tinta e em versão colorida para "Le Diable Noir", de José Pires & Benoît Despas (c) 2009 Éditions Orphie
No âmbito do 22º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora está patente ao público uma exposição sobre os 50 anos de carreira de José Pires.
Só ontem pude visitá-la e aconselho todos os interessados a fazê-lo nesta que é a derradeira semana.
Ilustração para capa do nº 1 da revista "Zorro" (c) 1962 José Pires
A organização do Festival achou por bem apresentar a exposição na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, Av. Conde de Guimarães (mais conhecida como “reta dos Comandos da Amadora”), 6 – Reboleira. O espaço que a acolhe não é a biblioteca propriamente dita mas a sala de conferências, a um canto do edifício.
O problema é que, não pondo em causa a dignidade desse espaço, é duvidoso que a maioria do público do Festival (que frequenta o núcleo central, no Fórum Luís de Camões) lá ponha os pés, em virtude da distância a que fica do Fórum; o que significa, na prática, que a maioria do público não verá a exposição.
Parece-me, sinceramente, que “50 anos de carreira” mereceriam melhor visibilidade e mais espaço. Mesmo assim, naquela sala de conferências, a mostra é representativa do percurso deste ex-publicitário – que faz questão de frisar que não é um “artista” mas um “profissional” – que se tornou um entusiástico utilizador e defensor das tecnologias digitais (“Freehand”, “Photoshop”, etc.). Já discuti muito com ele a esse respeito; das potencialidades, virtudes, limitações e armadilhas desses instrumentos (como de quaisquer outros, naturalmente, só que estes são extremamente poderosos e sedutores).
Última prancha de um western, original a tinta da china, (c) 1991 José Pires & Benoît Despas
Prancha de "Le Sang et la Gloire", original a tinta da china, de José Pires & Benoît Despas (c) 1991 Éditions du Lombard
Quero aqui render uma homenagem a José Pires, o “profissional” que passou pela publicação além-fronteira (Bélgica, França, Ilha da Reunião…) mas que da BD nunca tirou grandes proventos – a sua ‘verdadeira’ profissão era outra, em agências de Publicidade – e, não obstante, manifestou ao longo de tantos anos uma persistência e uma dedicação raras, que muitos “artistas” não teriam. José Pires acredita profundamente em si próprio, nunca deixa cair os braços apesar da aridez do meio da BD em Portugal e da dura adversidade no estrangeiro. E tem uma capacidade de trabalho notável e uma produtividade espantosa.
Nesse aspeto, eu próprio gostaria de ser mais “profissional”; mas José Pires, estimado colega e amigo, coloca-me na categoria dos “artistas”!...
Prancha de "Le Diable Noir", de José Pires & Benoît Despas (c) 2009 Éditions Orphie
É de referir, por fim, que José Pires manifesta em geral uma notável disponibilidade para apoiar aqueles em quem reconhece talento e para partilhar a sua visão da BD, as suas experiências e os seus conhecimentos gráficos.
Foi por intermédio dele – na altura, a trabalhar com o argumentista belga Benoît Despas para as Éditions du Lombard – que, em 1990, comecei a desenvolver com este último o projeto “Les Compagnons d’Alexandre”. Por força do destino, o projeto não vingou mas a atitude de José Pires, que eu mal acabara de conhecer e que me possibilitaria ‘entrar’ numa editora do gabarito da Lombard, isso é algo que não se esquece.
Um grande abraço, Gussy!
O recinto da exposição
[Fotografias de Luís Diferr]
E para quem fala assim... nada mais tenho a dizer, excepto que concordo com as tuas considerações. E também eu fico muito satisfeito, pois eu sou um daqueles que tem tido o privilégio de falar com ele sobre as visões e os conhecimentos gráficos. Grande abraço.
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