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quarta-feira, 11 de julho de 2012

A estranha virilidade do Escudeiro Europa

“O Escudeiro Europa”, ilustração (c) 2007 Luís Diferr


Aqui está mais uma personagem virtual do mutante e fractal mundo criado por José de Matos-Cruz, tão virilmente representada em “O Infante Portugal e as Tramóias Capitais” (2010, Apenas Livros, Lda).

terça-feira, 10 de julho de 2012

O desdobramento do Infante Portugal

“O Infante Portugal”, ilustração (c) 2011 Luís Diferr
[Original a tinta da china, digitalmente editado em Photoshop]

O Infante Portugal, congeminado pelo lírico José de Matos-Cruz, desdobra-se literalmente sob o traço de diversos ilustradores no livro “O Infante Portugal e as Sombras Mutantes”, publicado no passado mês de maio. O mais prolífico de todos eles é Daniel Maia.

“Deste solo emergirão o barro e a carne. O sopro e o sangue. A forma e a essência. O nervo e a voz. O desejo e a consciência. O homem e os seus fantasmas.
Desta forja brotarão o fogo e o furor. A fórmula e a matriz. A matéria e a centelha. A mutação e a engrenagem. O ritual e a alienação. O herói e as suas máscaras.”

In “O Infante Portugal e as Sombras Mutantes”, página 53, (c) 2012 José de Matos-Cruz

O mirabolante autor presta tributo a todos os seus cúmplices rabiscadores numa mostra hoje inaugurada, conforme o convite abaixo reproduzido.


Talvez lá se descubra o próprio Infante. Certo é que encontrá-lo será um feito quase tão notável quanto a descoberta do evanescente bosão de Higgs!

LER NOTÍCIA AQUI: Pérola de Cultura;
ou AQUI: João Amaral;
ou ainda, com vários desdobramentos mutantes, AQUI: Daniel Maia e Susana Resende.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Os Druidas de Valmenor (34)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

Ao alvorecer, Asdrúbal Moutinho vai buscar o burro prometido. Mas, em vez de um, traz três. Com o zurrar de um deles, um dos espiões da véspera acorda estremunhado.
O quê? – resmunga ele, contrariado. Estão agora refugiados por detrás de um muro de pedra, não muito alto, que beira o caminho para a floresta à saída da aldeia, do lado da estalagem. O vulto põe-se em pé e olha para a casa de Apolinário. Mas de imediato se esconde atrás do muro, dizendo “Merda!” e abanando o companheiro. – Irmão, acorda!
– Vai-te lixar! Ainda é cedo! – reclama este último, enrolado numa manta puída.
O barbudo em pé, semi-encurvado, observa Moutinho, Kli e Samara que, à porta de casa e junto a algumas provisões, conversam em voz baixa, inaudível para ele.
– Aqui estão os burros – diz Moutinho. – Este é o do teu pai, Samara: o Cipreste. Este é o que te aluguei, Kli. E este é o Gaffe, que decidi emprestar-vos... para carregar as provisões.
O estalajadeiro parece preocupado: – Hm!
– O que se passa? – pergunta Kli.
– Cheguem aqui – sussurra o homem, levando-os quase até ao meio da rua. Dali aponta-lhes a fortaleza do Príncipe, de onde sobe uma coluna de fumo violeta. – Parece-me que se prepara algo insólito no bastião do Lascário!... Vêm a cor estranha daquele fumo? Hm! E de madrugada, quando vim cá fora apanhar ar, chegaram-me sons de gritos e estrépitos metálicos.
Com gesto firme, ele conduz os viajantes novamente para o pé dos burros e das provisões, à porta de casa. Diz ele:
– Com três burros, vocês vão mais depressa.

Do seu posto de vigia, o barbudo dá um pontapé no companheiro deitado.
– Vais levantar-te ou não?! – insta, exasperado.
– Irra! – resmunga o outro, entreabrindo um olho. – Nem o sol ainda se deu a esse trabalho!
O primeiro retoma a vigia nervosa. Vê Samara já montada no burro do pai e Kli preparar-se para montar naquele que alugara. Moutinho acaba de prender as provisões maiores ao terceiro animal.
– Eles vão partir! – rosna o barbudo, excitado. E desfere mais um urgente pontapé no outro. – Levanta-te, estúpido!!
Mas aquele limita-se a roncar em alto e bom som.

– Que barulho é este? – pergunta Kli, alerta, com o bastão numa das mãos, olhando para o muro que esconde os barbudos. – Parece alguém a ressonar!
– Deve ser o Apuleio. Ele dorme em qualquer sítio!... – considera Moutinho. Fita a rapariga e diz-lhe: – Rogo aos deuses que encontres o teu pai, Samara. – E, após uma pausa, despede-se, pondo a mão na garupa de Cipreste: – Boa sorte. Apesar de tudo, algo me diz que conseguirão.
Já eles se afastam, quando o homem acrescenta:
– Kli, lembra-te da minha recomendação quanto ao burro... aos burros, quero dizer!

Quando cruzam a grande árvore, o barbudo em pé dobra-se para não ser visto e dá novo pontapé no outro.
– Acorda, estupor! E para com esse ronco!
Do outro lado da ponte, pelo hemiciclo do templo, chega Lúcio Simplex do seu passeio matinal; com um gesto da mão direita, sem dizer uma palavra que perturbe a alvorada, despede-se dos aventureiros.
E assim saem eles da aldeia, o cimbalino e a rapariga, com o burro das provisões atrás. Narrando este momento, virá Lúcio Simplex a escrever:
“Seguiram os cavaleiros nas suas soberbas montadas, com as quais constituíam um só. A que perigos se dirigiam, não seria possível sabê-lo. Nem se sobreviveriam. Mas muita coragem é necessária para defrontar a Porta!”
Do seu esconderijo, o barbudo avista-os afastarem-se em direção à floresta e Lúcio encaminhar-se para a estalagem. Com as ferozes sobrancelhas franzidas, rosna:
– Se aqueles dois pensam ter uma viagem tranquila, enganam-se. Ninguém nos desafia à toa! – Faz um gargarejo sinistro e completa: – Hoje será o seu último dia!
Do céu, uma ave madrugadora vê-o desferir vigoroso pontapé no colega deitado.
Acorda!
Ronf!

[FIM DA 1ª PARTE]

terça-feira, 3 de julho de 2012

Os Druidas de Valmenor (33)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

A lua, novamente alta no céu noturno, brilha agora sobre esparsas e velozes nuvens. Na fortaleza do Príncipe, apesar da hora tardia, há grande azáfama. No pátio, Javardo grita ordens:
– Tragam as alimárias para aqui! Cuidado com esse burro! Aventesma de merda, não vês que estás a raspar esse escudo no chão?!
No topo do torreão, os magos, acompanhados por Carcavel, parecem incomodados pela gritaria que chega através da janela:
– Grandessíssimo estúpido! Carrega-me essa tralha como deve ser! Abram alas para o alazão!
– Senhor – dirige-se um dos magos ao Príncipe –, não podeis pôr termo a isto? É impossível trabalhar assim!
– Põe-nos os nervos em franja!... – queixa-se outro.
O Príncipe vai à janela e chama, com impaciência:
– Javardo! 
O interpelado olha para ele, dizendo logo:
Senhor?!  Tudo vai bem!
– Não, não vai – responde-lhe o Príncipe. – Vê lá se fazes menos barulho! Os magos precisam de se concentrar!
O Príncipe recolhe-se, enquanto Javardo, olhando o torreão de soslaio, com o cenho franzido, resmunga:
– Bruxos de má sorte! Maricas! Ainda vos faço engolir a barba!
Lá em cima, um dos visados confidencia a Carcavel: 
– O vosso lugar-tenente tem-nos malquerença.
– Aquele vosso servo é uma fonte de perturbação – considera outro.
– Melhor seria – pondera o terceiro – se fosse fonte de informações... lendo-lhe nós as entranhas!...
O Príncipe tem um gesto de irritação e reclama:
– Não pensem nisso! Eu e o Javardo crescemos juntos, temos uma relação de afecto e compreensão. E agora chega! Não precisam de ler-lhe as entranhas para me dizer os augúrios... que, espero, sejam bons – acrescenta com uma ameaça na voz. – Para isso já lhes dei um Esturjão.
Os três magos tossem em simultâneo. Um deles, com certo receio, toma da palavra:
– Senhor! Podemos dizer-vos: amanhã é a hora de avançar! Os sinais são claros. Mas...
– Mas o quê? – rosna o Príncipe. – Haverá azar? Não irei eu reunir-me à princesa e acordá-la?
Após mais um tossicar geral, os magos retomam a compostura.
– Desculpai, Príncipe. É do fumo!...
– A verdade é que há indícios de algumas complicações – esclarece um deles. – Será necessária a maior prudência!...
Triplo asno! – ouvem Javardo urrar. – Címbalo de merda! Para castigo, irás connosco!
O alvo das injúrias é um jovem servo cimbalino, de compleição orgulhosa, que deixara escapar um burro que agora anda a escoicear pelo pátio.
– És mais asno que aquele! – esbraveja Javardo. – Os Druidas que te apanhem e façam picado de ti!
No salão dos bruxos, todos ficaram suspensos com aquela interrupção.
– Calou-se – diz um deles, enfim.
– Sabeis ainda, Senhor – acrescenta outro, para Carcavel, usando de todo o tacto de que é capaz –, que o resto do Salmo diz claramente que o destino separará a princesa do seu libertador.
– Bah! Desde que fiquem as riquezas... – considera de imediato Carcavel. – Além disso, o destino torce-se! Para isso conto também convosco!... Ou será o vosso pescoço a ser torcido!...
Eles engolem em seco, enquanto o Príncipe em passo enérgico se dirige à janela. Ali chegado, inclina-se para fora e, abrindo os braços em exultação, grita para a criadagem:
Ouviram? Quando eu nasci, uma bruxa vaticinou que eu viveria até aos 100 anos! É o que pretendo fazer!... Com a princesa a meu lado, para me servir e honrar!!
No pátio, onde se fez silêncio, Javardo zombeteia para um subordinado:
– Nem que tenha que a amarrar à cama!... He! He! – Depois, mais sério, medita: – Mas, após uns 40 anos de serviço e honrarias, ela já não deverá valer grande coisa!...
Quase junto à janela de Carcavel, no piso de baixo, entrevê-se a silhueta de Dária. Os seus olhos brilham no escuro.
[CONTINUA]

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Os Druidas de Valmenor (32)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

Na casa de Apolinário, entretanto, Kli e Samara ultimam os preparativos, arrumando algumas bagagens junto à mesa da cozinha.
– Sabes, Samara, quando vinha para cá pareceu-me vislumbrar duas silhuetas a vigiar-me, lá da ponte para o templo.
– Ah, sim? – Ela detém-se, olhando para ele. – Talvez os dois passarões do Príncipe que ficaram derrubados junto à Árvore Grande!...
– Não. Esses desapareceram antes de acabarmos o almoço. “Escafederam-se”, disse o Apuleio. – Kli pega no seu bastão, encurtado. – Não devem voltar tão cedo. Ah, se apanho aquele gordo!...
– Enfias-lhe o resto do teu cajado pelo cu acima? – diz ela com um brilho de malícia no olhar.
– Samara! Isso não são modos para uma menina!...
– Ora, ora, ora!... Não sou uma menina, já tenho... 15 anos!...
Nesse momento, batem à porta vigorosamente. Com um sobressalto, Kli e Samara entreolham-se.
– Quem será? – pergunta Kli.
Ela encolhe os ombros, como quem diz “sei lá!”, mas sugere: – Os teus dois espiões?
Ele sai da cozinha, atravessa silenciosamente a loja e, chegado ao pé da porta, pergunta, franzindo o sobrolho:
– Quem é? Estamos fechados!
Lá fora, o visitante ri-se.
– Já montaste negócio, Kli? Vá, abre a porta, sou eu, o Asdrúbal!
O estalajadeiro ouve o trinco correr. A porta entreabre-se e surge Kli, um pouco perplexo:
Asdrúbal? O que queres? Nós pagamos-te o burro amanhã... – Só então, espantado, repara no machado ao ombro do homem. – Para que é esse machado?!
– Para arrombar a porta, se não me deixares entrar! Vai ficando frio aqui fora!...
O colosso entra. Enquanto atravessam a loja, Kli fala-lhe dos vultos que vislumbrara na ponte.
– Não dei por ninguém – responde Asdrúbal, com o seu característico arquear de sobrancelhas. – Talvez fosse o Apuleio e algum outro...
Quando entram na cozinha, deparam com Samara no meio de tralha diversa, imóvel com os braços cruzados.
– Então, Asdrúbal – zomba ela –, para que é esse machado tão grande? Tornaste-te homem e decidiste vir connosco?
Ele, com o machado ao ombro, ignora a provocação.
– A minha imprudência não chega tão longe, Samara. Em especial, e tu deves sabê-lo, pela minha família. Mas vocês precisam de proteção... não só por causa dos Druidas, como também do Príncipe. Nunca se sabe o que esperar desse canalha!... Sobretudo, depois da rixa de hoje à tarde.
O homem desvia o olhar da rapariga para algum objeto à sua esquerda.
– Assim... bem... pelo menos esta noite, aqui na aldeia, eu posso protegê-los! Fico aqui.
Dito isto, senta-se num cadeirão, junto à braseira, com o machado sobre os joelhos.
– Terão que passar-me por cima, para chegar até vós.

Lá fora, as duas silhuetas barbudas, atrás da árvore, debatem:
– Entrou aquele brutamontes na casa. Quanto tempo irá lá ficar?
– Ele levava um machado. Achas que os foi esquartejar?
– Não me parece, irmão – pondera o primeiro. – Não ouvimos nenhum berro!...
Durante um instante, mantêm-se em silêncio. Um gato roça-se na perna de um deles, assustando-o.
– Fora daqui, gato miserável! – ralha-lhe o homem entre dentes, agitando a perna. Mas outros gatos aparecem.
Estultos! – diz uma voz, vinda dos lados da ponte.
Eles têm um sobressalto, clamando: – O quê? Quem está aí?
E nisto, virando-se, pisa cada um o rabo de um gato, enquanto a voz prossegue: – Néscios! Imbecis! Parlapatões insensatos!
O que se segue é um festival de miados, rosnados, arranhões e gritos. Na casa de Apolinário, Kli, que já se tinha deitado, enrolado na sua manta ao lado das bagagens, soergue-se:
– Que balbúrdia é esta?
– São os gatos à bulha, Kli – responde o estalajadeiro do seu cadeirão. – Não te preocupes.
O cimbalino deita-se novamente. Mas não pode impedir-se de pensar:
«Gatos não dão gritos!...»

[CONTINUA]

domingo, 1 de julho de 2012

Os Druidas de Valmenor (31)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

Ao findar o dia, Kli encontra-se novamente na estalagem, onde foi alugar um pónei para a viagem.
– Um pónei não tenho – diz Moutinho. – Mas posso arranjar-te um burro.
– Serve.
Há secura na voz do cimbalino. Passado meio minuto, o estalajadeiro comenta:
– Os homens do Príncipe foram bem sovados!
– Sim, é verdade. A ti, Asdrúbal, apesar de tudo, agradeço o apoio que me deste hoje à tarde. Pode trazer-te alguns sarilhos!...
– Ora! – diz o homem, com ar de descaso. – Há tão poucas ocasiões de uma pessoa se distrair, aqui!... Deves mais à Samara. Que coisa espantosa, Kli, ninguém sabia que ela fosse uma arqueira!... E daquele gabarito!
– As pessoas às vezes são mais do que parecem.
– E às vezes menos!... Estou de acordo. Já fizeram todos os preparativos?
– Já.
Hm! Portanto, estão mesmo decididos?
– Perfeitamente. Vamos amanhã.
Vendo que a decisão é definitiva, Asdrúbal Moutinho diz:
– Muito bem. O burro arranja-se para amanhã, bem cedo. Tenho que ter uma conversa com ele!...
– Costumas conversar com os burros?
– De vez em quando... sobretudo quando vão para missões perigosas. Os burros têm almas delicadas – esclarece. Depois, inclinando-se para o cimbalino, adverte: – Cuidado, Kli! Ai de ti se os Druidas descobrem!... Põem-te no caldeirão e comem-te aos bocados! Dizem que a Irmandade é implacável!
– Cuidado, Asdrúbal. Dizem que o Príncipe também o é – retruca o cimbalino, com um ligeiro sorriso, e vira-se, dirigindo-se à porta. Está já a atingi-la quando se detém ao ouvir a voz de Moutinho atrás de si:
– Kli! Antes de atravessares a Porta...
– Qual? Esta?! – admira-se ele.
O estalajadeiro ri-se. Depois, recuperando a gravidade, diz:
– Não, a outra: a Porta do Tormento Amarelo! Antes de a atravessares, manda-me o burro para trás. – E, após uma pausa: – Não quero ficar com um animal atormentado!

Escurece já quando duas silhuetas barbudas saem do templo em direção à ponte. À porta aberta do edifício, Fulvo observa-os afastarem-se, branco como a cal. Dizem eles:
– Vamos, irmão!
– Que tencionas fazer, esquartejá-lo?
Mas encolhem-se quando Kli sai da estalagem, encaminhando-se para a casa do boticário, em frente. Vigiam-no enquanto rosnam, entre dentes:
– Ali! Lá está ele, irmão!
– É mesmo aquele?
– Não há dúvida! O estupor do sacerdote não nos enganou!
– Nem se atreveria, porra! Estava borrado de medo. Capávamos o miserável, cozíamos-lhe os tomates!
– Dava um pitéu! He! He!  Quanto àquele ali, vamos fritá-lo em azeite!
– Das orelhinhas arrebitadas faremos couratos...
– ... e das fortes perninhas dois presuntos fumados!...
Kli, tendo batido à porta, entra na casa.
He! He!  Terrível, irmão! Terrível!
– Vamos a isto! – dizem eles, avançando.
Param junto do grande carvalho, onde se dissimulam mais ou menos. Comentam:
– Ele está lá com a miúda!
– Grande safado! Pederasta!
– Faremos uma espetada mista!
Rreh! Rreh!  Um chouricinho dele para uma carninha dela, bem tenrinha!...
– Deixamo-los em vinha d’alhos de véspera, irmão. Com cebola, pimento e molho de colorau, é de ficar inspirado!
Vigiam atentamente. Pouco depois, o último a falar prepara-se para avançar:
– Vamos, irmão! Os alhos já estão descascados!
Cuidado! – retém-no o primeiro. E eles tornam a esconder-se atrás da árvore.
Acabam de avistar a sólida silhueta do estalajadeiro, que, transportando ao ombro um grande machado de lâmina dupla, saiu do seu estabelecimento e desce os degraus do alpendre.
[CONTINUA]