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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Diadema Atlante / Le Diadème Atlante (3)


 
O Diadema Atlante / Le Diadème Atlante, p. 4, im. 6 (c) 2011 Luís Diferr

Depois de muito esforço à toa e diversas desilusões, decidi retomar a BD. E faço-o com um projeto antigo mas que muito me agrada : "O DIADEMA ATLANTE". Talvez mais esforços à toa, mas não convém viver frustrado!...

NOTÍCIAS ANTERIORES : 1 e 2.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O DESTRANGEIRO – Saint-Malo


Cheguei a esta terra de Saint-Malo ao fim do dia, a essa hora mágica que nos deslumbra e nos humaniza, em que o sol radiante, por se esconder tão baixo entre as nuvens, se torna mais assombroso e divino. Nesse momento, Saint-Malo deixou de ser um ponto no mapa, um cenário de filme de Rohmer, uma abstrata comuna na Côte d'Émeraude. Passou a ser real; de início o ar marinho e a visão que se amplia, depois o chão, a areia da praia enorme, surpreendentemente larga e comprida, com um extremo recortado em perfil escuro, a fortaleza e a urbe antiga ainda aquecidas pelo sol que agora declina, e o outro lá tão longe, no extremo da grande curva.

Quis pisar aquela praia plana, percorrê-la à fímbria da maré baixa, andar sobre a larga faixa de areia ainda molhada, do mar que ali esteve ainda há pouco. À medida que caminho pelo areal, torno-me menos estrangeiro. Já sou quase dali, ou poderia ser, as gaivotas não me são estranhas nem os raios brancos que o sol despede em torno, aquelas nuvens que quase preenchem o céu desta Terra que é tão diversa e una, ou mesmo a silhueta da vetusta fortaleza mar adentro. Olho com simpatia para os tardios veraneantes que, perto ou longe, por ali deambulam. Meia hora mais tarde, mais próximo da cidade, sou apenas estrangeiro por circunstância, pertenço àquele sítio, quase como as pessoas dispersas que cruzo, que seguem adiante ou que se detêm à beira-mar, eretas sobre o seu reflexo, apontando o mar, fitando-o em silêncio ou em murmurante cumplicidade, as crianças que brincam e que ainda nada sabem sobre o futuro e pouco sabem sobre o passado.

Quando dou meia volta, para regressar a tempo do jantar, sinto uma profunda felicidade. Os pés pisam o chão que me é cada vez mais familiar, sinto intimidade com o lugar e a história –aprenderei depois que Saint-Malo foi uma cidade de corsários, ouvirei falar do intrépido Robert Surcouf e verei a sua estátua – e sinto, sobretudo, aquela refrescante disponibilidade de quem não tem que ir trabalhar no dia seguinte, nem no outro, nem no outro.

[Fotografias (c) 2013 Luís Diferr]

terça-feira, 3 de setembro de 2013