PRÓLOGO
Há muito tempo, na colina do que é hoje o Castelo de S.
Jorge, em Lisboa, uma bela jovem de
cabelo claro como o feno, com uma franja sobre a testa e elaboradas
tranças a emoldurar o rosto, observa o largo curso do rio, lá em baixo, na
direção do sol. Um longo vestido de linho branco cinge-lhe o corpo esbelto, leves
sandálias protegem-lhe os pés. O seu olhar azul, doce e enigmático, fixa por um
momento a longínqua foz do rio, enquanto um vago sorriso lhe ilumina a expressão
de paz interior.
Como imersa em pensamentos, afasta-se um pouco do parapeito do terraço e
senta-se a uma larga mesa de mármore, à sombra de um toldo ricamente
ornamentado, defronte de uma espécie de pergaminho. Começa então a escrever, numa elegante caligrafia:
“Aqui, no Palácio da
Colina Sagrada, de onde avisto o estuário do grande Tagus Thar, belo e
resplandecente sob o sol, eu, GrimStir,
escriba de ErinSamat, a bela, narro a sua história, a do meu pai Satrian e da
minha mãe Silka, e a história dos últimos dias da Atlântida, que se afundou sob
a cólera conjunta de TheraNarit e de HagThar. Narro a história do novo reino
criado nesta terra por ElasSipos, filho de DiramAtlas e descendente da mais
distinta linhagem real.
Eu, a última criança da Atlântida, acolhida
nos braços de TheraNarit no próprio dia do meu nascimento, rendo-lhe graças pela sua proteção contra os elementos descontrolados
e contra a fúria de um grande número de deuses e heróis. Narro a história épica
tal como me foi contada por muitas pessoas, nomeadamente a minha mãe e a minha
avó Naramet, cuja ternura foi permanente ao longo dos meus 17 anos, ontem
completados.
Narro a história
conhecida e lendária do Diadema Atlante,
durante muito tempo à guarda da nobre e sábia ErinSamat, a deusa humana de
fronte luminosa que por amor renunciou aos seus votos. O meu pai, o louco
companheiro de tantos homens intrépidos, levou uma vida aventurosa, das
montanhas da Atlântida às estepes de África, até ao dia em que se maravilhou à
vista de ErinSamat pondo o Diadema na própria cabeça, aquele dia em que a
minha bela dama se tornou a Grande Sacerdotisa do Templo do Promontório Sagrado.
Naquela deslumbrante manhã, ele desejou-a com imbatível devoção, e por essa devoção
procurou-a na sua casa, atravessou a Porta dos Leões e ali a encontrou. Nunca, até então, tinha
enfrentado tão grande perigo!"
Imagem da BD (em produção)
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