Cardeal Roberto Bellarmino (1542 - 1621)
ROMA, 1611:
Galileo* – Vi uma rapariga a patinar nos anéis de Saturno! Juro!
Cardinale Bellarmino – Ab Jove principium… [Comecemos por Júpiter (isto é, pela personagem mais importante), Virgílio]
G.* – Não, em Júpiter só vi o Hades a afogar-se na Grande Mancha!
C.B. (dubitoso) – Credo quia absurdum. [Acredito porque é absurdo (ou a fé ultrapassa a capacidade da inteligência)]
G.* – Porém, é verdade. O pobre debatia-se e gritava: Dum spiro spero! [Enquanto respiro tenho esperança (loc. latina)]
C.B. (condescendente) – Aut vincere aut mori! [Ou vencer ou morrer (loc. latina)]
G.* – É bem verdade!... As forças do Universo são poderosas.
C.B. – Ah! Coeli enarrant gloriam Dei! [Os céus narram a glória de Deus]
G.* – Bom, não posso demorar. Tenho que ir polir um espelho.
C.B. (levantando-se) – Dimidius mihi sit qui tantum maxima, sed qui cum parvis tractat maxima, totus homo est! [Aquele que só trata de coisas grandes é só metade de um homem, mas o que tanto trata das grandes como das pequenas é homem completo (loc. latina)]
G.* (abrindo os olhos) – “Càspita!” Vamos beber um copo?
C.B. – Bonum vinum laetificat cor hominus (Eclesiasticus, 40, 20). [O bom vinho alegra o coração do homem]
Ambos se dirigem para a porta.
G.* – A rapariga lá no anel até que era jeitosa!...
C.B. (doutrinador) – Eritis sicut Dii. [Sereis como deuses**]
G.* –Sim, claro!... Mas, piedoso Cardeal, preocupa-me a reacção da Inquisição às minhas observações e teorias. Não gostei nada do que aconteceu ao Giordano Bruno lá no Campo das Flores…
C.B. (após um silêncio)– Dat veniam corvis, vexat censura columbas… [A censura poupa os corvos e vexa as pombas (isto é, são muitas vezes perseguidos os inocentes enquanto os culpados ficam inocentes (Juvenal, Sat. 2, 63)]
G.* (inquieto) – Ou seja?...
C.B. – Ad bestias! [Às feras (loc. latina)]
G. – MA CHE?!
* Traduzido do italiano.
** Palavras que a serpente dirigiu no paraíso terreal a Eva, induzindo-a a comer dos frutos da árvore da ciência do bem e do mal, e que podem servir como exemplo a promessas enganadoras.
** Palavras que a serpente dirigiu no paraíso terreal a Eva, induzindo-a a comer dos frutos da árvore da ciência do bem e do mal, e que podem servir como exemplo a promessas enganadoras.
"Cum grano salis": "Com um grão de sal" (isto é, com certa dose de bom humor ou malícia).
Post Scriptum: Locuções em latim, assim como o seu significado, extraídas do DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 6ª edição, (c)1984 Porto Editora, Lda.
Giordano Bruno (1548 - 1600)
Benedictus XVI
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