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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (13)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

– Olé! – exclama o palerma, dando um pulo para o lado, amedrontado.
– Sou eu, címbalo! – rosna o meliante. – Decidi levar-te ao meu mestre e receber a recompensa! Tu podes escolher: ou vais a bem ou vais a mal!
– Ou não vou! – replica Kli, que de imediato lhe acerta uma paulada na mão, fazendo saltar a faca (“Toma!”, grita o palerma semiescondido atrás da árvore, com um brilho de entusiasmo infantil nos olhos).
Logo a seguir, apoiando o pau firmemente no chão, Kli faz um salto à vara sobre o atónito indivíduo!... E aterra atrás dele (“Livra!”, ouve-se o palerma), girando sobre si próprio e desferindo-lhe uma paulada nas pernas (“Acerta-lhe!”, encoraja Apuleio) e outra, com o topo do cajado, em plena barriga. O homem cai no chão, perplexo e combalido. “Hurra!”, grita o pateta, saltando para fora do esconderijo, com as pernas arqueadas e ambos os pés no ar.
– Faltou-te apanhar na cabeça – diz Kli, quase displicentemente apoiado ao cajado, com ambas as mãos, e ao lado do servo –, mas esse mimo reservo-o ao teu dono!...
– É como chuchar na mama!... – assegura o palerma. E  acerta um coice no homem tombado. – Toma!
Um magote de gente assomou ao alpendre da estalagem, incluindo Asdrúbal Moutinho e Lúcio Simplex. A turba faz grande tumulto; e alguns descem os degraus. O homem do Príncipe, cheio de medo, sentindo-se sovado e acuado, levanta-se e foge numa corrida trôpega, dobrado sobre si próprio [assim também se protegendo melhor contra as pedras que alguns miúdos (entre os quais, o filho do estalajadeiro) lhe atiram].
– Desaparece! – gritam-lhe alguns.
E ele efetivamente desaparece, para lá da ponte. O sacerdote Fulvo, que também fora atraído à porta do templo, fecha-a apressadamente, antes que o outro lá chegue e tenha ideias de ali se refugiar.
– Escafedeu-se! No verdadeiro sentido da palavra – pondera o pateta, com o seu sorriso desdentado.
– Conheces o verdadeiro sentido dessa palavra, Apuleio? – pergunta-lhe Lúcio, que apareceu a seu lado, arqueando a sobrancelha. Ambos estão virados para onde o servo do Príncipe desapareceu.
– Conheço – diz serenamente o pateta.
– Lá vai ele! – grita uma mulher, que viu o servo reaparecer, mais para cima na colina, onde a vegetação se faz mais rara. Tendo circundado o templo, ele volta atrás, para a fortaleza do Príncipe, através das encostas mais escarpadas, assim evitando os pastores e outros que ficaram alerta com o rebuliço.
– Isso, vai ter com as cabras!... Cabrão! – insulta um homem mais destemido.
– E também conheço o sentido de outras palavras – prossegue o pateta. – Como, por exemplo, patamar, malacueco, hagiografia, estupendo, paideia, definição, hediondo, paralaxe, decumano, decote, heliocêntrico, dispersão, estequiometria, haplítico, hialino, soberbo, marco geodésico, flutuação da Bolsa, artrite, convulsão, excelente, corno manso, calinada, barba.
Todos estão como que estupefactos e suspensos nas palavras proferidas pelo palerma.
– Deixem-me escrever – pede ele, por fim.
Após um instante de hesitação, Lúcio Simplex diz aos outros, com entusiasmo:
– O Apuleio quer escrever!
– O Apuleio quer escrever! – grita logo alguém, para espanto de Kli. E saem todos, acompanhando o palerma de volta à estalagem. Sobem a escada com grande balbúrdia e Asdrúbal Moutinho, que ficara no alpendre, pergunta, elevando a sobrancelha:
– O que se passa?
– O Apuleio quer escrever! – diz-lhe um dos elementos do cortejo, quando o palerma, todo contente e festejado pelos demais, já foi transportado para dentro da estalagem.
– Ah!... – profere Asdrúbal, erguendo ainda mais as sobrancelhas, como quem ouviu uma extraordinária notícia.
– Mas o que se passa? – pergunta, por sua vez, um perplexo Kli ao estalajadeiro.
– O Apuleio quer escrever! – esclarece o homem. E retira-se apressado.  – Tenho que lhe arranjar alguma coisa onde ele possa escrever!
[CONTINUA]

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