Kli Van-Kli, "Os Druidas de
Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr
Um rapaz entra a correr na estalagem de Moutinho, avisando excitado:
– Asdrúbal! Vem aí um batalhão de gente do Príncipe!
– Um batalhão?! – admira-se o estalajadeiro. – Diabo! Devem
andar à procura de Kli!
– Se calhar vêm vingar-se do que aconteceu ontem ao
Esturjão! – lembra uma cliente, ansiosa.
– O Esturjão? – inquire
Moutinho. – É esse o nome dele? Não sabia que conhecias o homem, Lila!...
Lila embaraça-se, deixa cair umas maçãs que pusera numa
malga.
– O meu irmão já tinha falado nele! – diz ela, encarnada. –
Encontrava-o às vezes nas encostas!
– O que é que interessa onde é que o irmão dela o
encontrava?! – resmunga um velho bebedor de cerveja, agitando a caneca. – O que
interessa é que já há algum tempo que não tínhamos problemas com o Príncipe; e
agora vem aí um batalhão!... Certamente não com boas intenções!
– A culpa é do cimbalino! Foi ele que bateu no outro! –
opina um homem gordo, a suar.
– Ainda acabamos por pagar pelo címbalo!... – reclama um
quarto cliente, com algum rancor.
– O címbalo, Astolfo?...
Tens a boca virada para o insulto – diz o estalajadeiro com um sorriso irónico
na expressão grave. – Ainda ontem, se bem me lembro, não te furtaste a chamar
nomes ao Esturjão!...
– Chamou-lhe cabrão! –
diz o puto Aderbal. E o irmão confirma:
– Pois foi.
Astolfo tem ganas de bater nos miúdos, mas contém-se, à
vista do porte do pai. Entretanto, já toda a gente se vira para a porta...
– Que se lixe, tudo isso! – exclama o gordo. – O batalhão é
bem capaz de vir para aqui. E eu não quero cá estar quando eles chegarem!
E, numa balbúrdia, precipitam-se todos para a porta.
– Um momento! – ordena Moutinho, na sua voz
imperiosa, e todos se detêm. Acrescenta ele: – Livre-se alguém de denunciar o paradeiro do cimbalino aos homens do
Príncipe. Tratarei eu mesmo de fritá-lo em azeite.
Com a advertência no cérebro, os clientes saem do entreposto
e descem a escada num tumulto. Chegados à rua, contudo, param indecisos,
olhando para um lado e para o outro; da esquerda, onde ficam as suas casas,
virá “o batalhão”. E este, justamente, acaba de entrar na aldeia, passa à porta
da oficina do Eslavo, o ferrador, que interrompe o trabalho e os olha de
sobrolho louro carregado.
– Para onde vamos? – perguntam-se os clientes de Asdrúbal,
receosos.
– A minha casa é para ali – diz um deles, apontando para a
esquerda.
– Também a minha! Mas, por ali, ainda damos de cara com o
batalhão!
De facto, eles encontram-se perto da entrada oposta àquela
por onde chegam os homens do Príncipe, que é do lado da fortaleza, a leste.
– Para o templo! – sugere o gordo, a suar.
– Boa ideia!
– Pedimos ao Fulvo para fazer uma prece! – diz Lila, mais
ansiosa do que nunca.
Os fugitivos correm a refugiar-se no templo. Lila deixa cair
batatas e fruta. Quando encetam a travessia da pequena ponte, Astolfo reclama:
– Este Asdrúbal ainda nos vai trazer problemas!
– Cartaginês! – responde o velho, ágil nas pernas. – Os
Romanos já deram cabo dos da raça dele!
– Esperem por mim! – grita-lhes o gordo.
[CONTINUA]
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