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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (28)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr


Com aquele alvoroço, a porta do templo entreabre-se e a cabeça de Fulvo surge timidamente.
– O que se passa? – perguntam lá de dentro.
Ouve-se o palerma gritar: – Toma! Idiota! Sabujo! Ornitorrinco!
– O címbalo e o Asdrúbal estão em maus lençóis – diz o sacerdote, com um esgar cínico na face.

O adversário de Kli tem-no à sua mercê. Exulta já e prepara-se para dar o golpe de misericórdia quando... uma seta se lhe espeta no rabo! O homem grita. E Kli avista, a alguma distância, Samara equipada com o seu arco. Com ar orgulhoso, acaba de disparar.
No templo, Fulvo também viu aquilo e abre os olhos de espanto.
– A filha do Apolinário acertou uma flecha no rabo de um deles!! – exclama.
Uma flecha?! – responde Astolfo, cuja cabeça aparece também à porta. – No rabo de quem?!
A filha do Apolinário?! – admira-se alguém, lá dentro.
“Samara, jovem arqueira, interveio a tempo, trespassando o glúteo do inimigo com uma pontaria assombrosa”.
Kli, sem perder tempo, dá uma tremenda paulada no gordo, que desfalece. Mas outro deles, o que levara a pedrada de Aderbal, já se recompôs o suficiente para se atirar ao cimbalino pelas costas, brandindo uma faca.
Uma segunda seta corta o ar, “e a arqueira arrancou-lhe a faca da mão!...”
– Como Guilherme Tell com a maçã – diz o palerma, com um sorriso de orelha a orelha.
O estalajadeiro, num vigoroso golpe, aligeira o adversário da sua espada. Foi a conta para este, já alarmado com o que se passava à sua volta. Cai de joelhos, suplicando a Asdrúbal:
– Piedade, poderoso senhor!
– Põe-te a andar, miserável! – riposta Asdrúbal. O homem vira-se logo, para fugir, e o estalajadeiro acerta-lhe um pontapé no traseiro, dizendo: – Ou antes, a correr!...
E ele sai a correr, na peugada do da faca e do da seta no rabo, que já atravessa a ponte.
Viva! – grita, eufórico, o palerma. – Servos de merda! Apóstolos!
Tomado de pânico, ao ver os três homens aproximarem-se, Fulvo fecha a porta do templo.
– Fulvo, assim não vemos nada! – reclama alguém lá de dentro.
– Não há nada para ver!

Triplos cabrões! Vão pastar na pedra! – invectiva o palerma, agitando o punho em direcção aos servos do Príncipe que fogem para as encostas.
– Ontem foi um... E hoje são três! – comenta um pastor, para o colega, ao vê-los passar.
– Amanhã serão talvez cinco, ou nove!... – responde o outro, apoiando o queixo sobre as mãos e estas sobre o topo do bordão. É sabido que foi com a contagem de ovelhas que se desenvolveu o cálculo e a noção de número.

Quando os fugitivos já vão longe, a porta do templo reabre-se e Fulvo espreita cá para fora.
– Então? – pergunta alguém lá de dentro.
Vendo que não há perigo, saem todos para o ar livre e põem-se a observar os três esbirros do Príncipe que são agora perseguidos pelo cão de um pastor.
– Canalhas! Ponham-se a léguas[1]! – grita Astolfo.
– Morde-os, Valente! – incita Lila, embora o cão, muito longe, não a possa ouvir.
Olham então para os lados da grande árvore, onde Kli, Samara e Asdrúbal estão agora reunidos. Lúcio Simplex, Amílcar e Elissa, vindo apressadamente da estalagem, dirigem-se ao trio.
[CONTINUA]



[1] Légua: unidade de medida que equivale a 5 km; nessa época ainda não era conhecida.

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