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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (18)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr

No dia seguinte, logo de manhã, Kli visita o grande jardim de Apolinário, nas traseiras da casa, em que este cultiva uma infinidade de plantas medicinais, ervas e flores. Uma densa sebe delimita o jardim, escondendo-o da vizinhança e do rio que o bordeja a sul, com o qual comunica por um portão.
Samara, que entretanto acordou, abre a janela do seu quarto, virada para o jardim, no piso superior, e pisca os olhos à luz do dia. Espreguiça-se, vendo-se-lhe o torso nu.
« De facto, já não é uma miudinha!... », pensa Kli, observando os seus bonitos seios de adolescente. A recordação do estranho incidente da madrugada, fosse realmente um incidente ou apenas um perturbador sentimento, só em parte foi esbatida pela bela manhã que agora se segue, de céu azul e sol coruscante.
Ela avista-o e cora.
Kli! Oh! Estás aí?! – exclama. E desaparece. Volta, pouco depois, cobrindo o peito com a túnica vermelha. – Não devias andar aí! O meu pai não quer ninguém no seu jardim!... Nem eu!
– Desculpa! Olá, bom dia!…
Kli dirige-se à porta da casa, que dá para a cozinha e que fica quase por baixo da janela da rapariga.
– Vou já para dentro – apressa-se ele a dizer.
Está lá dentro há um momento, a olhar para fora pelo vão da porta, quando ouve uma cantilena vinda de cima:
– Tirili-lalá-lalá!...
O cimbalino não resiste a espreitar; adianta-se um passo para fora. Lá em cima, na janela, vista em contrapicado e banhada pelo sol a leste, Samara, novamente nua, espraia os longos cabelos e abre os braços em saudação ao disco luminoso. Entoa ela:
– Oh, sol brilhante e bonito!
Que um bom dia traga a tua luz!
                       Tirili-lalá-lalá...
Fala-me de tudo o que está escrito,
Do que eu nunca soube nem supus.
                       Tirili-lalá-lalá!

Kli, distraído pela figura da rapariga, não liga à leve mas desagradável impressão que nele assoma e desaparece. Sorri e, voltando para dentro, põe-se também a trautear, baixinho: – Tirili-lalá-lalá!...
Mas ouve novamente a voz de Samara, agora um pouco mais sumida:
– E traz-me notícias do meu pai...
Antes que chegue a noite que cai.
            (Passado um bocado, tristemente: Tirili-lalá-lalá...)
De súbito ela solta um grito e chama por ele. Kli, sobressaltado, sai e vê-a debruçada à janela, com uma mão agarrando o beiral e com a outra cobrindo-se desajeitadamente com a túnica. Perturbada, com a voz a tremer, pergunta:
– Kli, tu… vieste ao meu quarto… durante a noite?
Após um momento, com o coração acelerado, o cimbalino responde:
– Sim, fui, porque…
– Foste tu que me tiraste o anel? – dispara ela, abrindo os olhos e franzindo as sobrancelhas.
– Eu?! Não! Qual anel? Ah, o anel! – exclama Kli; e pergunta, intrigado: – Desapareceu?!
– Foi roubado! E não havia mais ninguém nesta casa!
Kli, após um momento de indignação, recupera a calma e replica:
– Samara, se eu te tivesse roubado o anel, já cá não estava. Não achas? Estaria longe, na floresta!
Ela resmunga e, apercebendo-se da sua nudez parcial, reentra um pouco, não o perdendo de vista e protegendo o peito com os braços sobre a túnica.
– Procura bem – aconselha Kli e recorda-se da estranha experiência dessa madrugada. – E espero que o encontres. Senão…
Samara retira-se para dentro, rezingando enquanto atira a roupa para cima da cama:
– Só me faltava ter albergado um ladrão!
Num instante de inspiração, espreita debaixo da cama e com grande alívio ali vê o anel a brilhar docemente.
– Encontrei-o! – exclama ela, também para alívio do cimbalino. Põe-no imediatamente no dedo e senta-se sobre as pernas dobradas. Faz beicinho, experimentando um sentimento de remorso pela acusação que dirigira ao seu hóspede.
[CONTINUA]

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