Kli Van-Kli, "Os Druidas de
Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr
Kli vem a atravessar a ponte, dialogando com o palerma:
– Que mais sabes sobre os Druidas, Apuleio?
– Sei que são parvos! – responde ele. – São parvos, parvos,
parvos!...
Nesse instante, o cimbalino vê Samara e o estalajadeiro a
correr na sua direção.
– Kli! FOGE! –
grita ela.
Num instante se reencontram. O palerma parece aborrecido com
isso, resmungando e olhando para o outro lado: – Parva!
– Vêm aí cinco galfarros do Carcavel para te tratar da saúde
– diz Asdrúbal ao cimbalino.
– Ah, vai haver pancadaria! – rejubila agora Apuleio. – Bom,
bom, bom!
– Ora, ora!... Por isso aquela gente se refugiou no
templo!... – diz Kli, olhando para lá.
– O que vais fazer? – pergunta Asdrúbal. E aponta o
arvoredo, a uns cem metros da aldeia. – Se fugires, talvez consigas esconder-te
na floresta.
– Fugir?! Eu?! –
indigna-se Kli. – De cinco boçais?!
– Viva! – exclama Samara e atira-se ao pescoço de Kli,
dando-lhe um beijo. – Que valente!
– Vimos cinco, mas pode haver mais – avisa Moutinho.
– Posso contar com a tua ajuda? – pergunta-lhe Kli.
O estalajadeiro medita por um instante.
– Podes contar comigo! Podes contar comigo! – grita o
palerma, pondo-se aos pulos, excitado.
Quando os esbirros do Príncipe chegam ao local, encontram
apenas Kli, encostado à grande árvore, de frente para eles, e Apuleio.
– Ora, ora!... Que robusta companhia!... – ironiza o
cimbalino.
– Aí estás tu, címbalo! Vimos buscar-te, a mando do nosso
mestre – atira-lhe logo um dos homens, ferozmente.
– Mas antes apetece-nos dar-te uma surra.
– Nesse caso, terão que se haver também comigo – diz
Asdrúbal Moutinho, saindo de trás da árvore.
Nesse momento, Samara entra apressadamente pelo portão do
jardim de Apolinário, proveniente de um caminho à beira-rio.
E, junto à grande árvore, uma hesitação de temor toma conta
da tropa.
– Não te metas nisto, cartaginês! – rosna um deles. – O
Príncipe não iria gostar!
– De quem o nosso Príncipe gosta é da garina!... – cospe outro,
com volúpia nos olhos. – Onde é que ela está, hã?
– Onde vocês não lhe possam pôr as patas em cima, sabujos – replica
friamente Kli.
– Samara está nua, Samara está nua! – cantarola o palerma,
pondo-se a dançar.
– Cala-te, Apuleio! – ralha Moutinho.
– Sabujos?! – urra um dos homens,
inconformado. – Pela má sorte, vamos permitir que este címbalo de merda nos
chame sabujos?
– Claro que não! – gritam eles. – Mata! Esfola!
– Mas o que é um sabujo,
afinal? – pergunta o gordo, perplexo.
– Cão de montaria!
– esclarece o palerma. – Utiliza-se figurativamente no sentido de um indivíduo servil... bajulador...
adulador... capacho...
– Vês?! – urra o homem, arreganhando
os dentes. – É um insulto! Ele insultou-nos!
E com raiva na alma, puxando das espadas, todos os cinco se
atiram a Kli e ao estalajadeiro.
[CONTINUA]
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