Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr
Quase ao mesmo tempo, Kli e Samara saem de casa dela, pela porta da loja, a única aliás. Admiram-se ao avistar os aldeões a correr pela ponte.
– O que deu àquela gente? – pergunta Samara.
– Sei lá! – responde Kli. Avançam os dois até à grande
árvore junto à ponte, de onde avistam os outros entrar de roldão no templo. –
Algum surto de fé repentina!...
Ela ri-se; depois, virando costas, diz:
– Podes averiguar, já que vais falar com o Fulvo.
– Fulvo não fala, resmunga!... – esclarece Kli, dirigindo-se
para a ponte.
Samara volta atrás, encaminhando-se para a estalagem de
Moutinho. Entretanto, de debaixo da ponte sai o palerma, que abre um sorriso de
orelha a orelha quando reconhece o cimbalino:
– Olá, olá, olá!
– Olá, Apuleio! – saúda-o Kli, detendo-se.
O palerma em três pulos sobe a margem, do lado da aldeia, e
entra na ponte com passo desengonçado. Diz ele, ainda todo sorridente:
– O gado passou por aqui e acordou-me! Grande trote!
Acompanhado por Apuleio, Kli prossegue o seu caminho. O
palerma apanha uma maçã que Lila tinha deixado cair, trinca-a, e pergunta ao
cimbalino:
– Onde vais?... Resmugar
com o Fulvo?
– Hm, hm! – murmura Kli em assentimento.
– O Fulvo não é guardão!...
O Fulvo não é guardão!... –
cantarola o outro. – Porque é que dás conversa àquela parva?
Pouco depois, a
“parva” vai a entrar no estabelecimento de Asdrúbal Moutinho quando
choca com este, que ia a sair.
– Oh! – assusta-se
ela.
– Olá Samara. Ainda bem que te vejo!
– Não vale a pena tentares demover-me, Asdrúbal – proclama
ela secamente. – Aliás, preciso de
algumas coisas para a minha expedição a Valmenor! Espero que não te recuses a
fornecer-mas.
– É claro que não – diz Mirhtô, do fundo da loja.
– Samara, parece que vem aí um batalhão do Príncipe! – afirma
o homem, segurando-a pelos ombros. – Onde está Kli?
– Foi falar com o Fulvo. Um batalhão, dizes tu?
– Digo eu, não. Disse o Maquito, do Balaio. Eu ia justamente
avisar o cimbalino... eles vêm com certeza atrás dele!
Por acaso, no instante em que Kli e o pateta chegam ao
templo, o sacerdote aparece, aflito e visivelmente com o fim de fechar a porta.
Mais aflito fica ao dar de cara com o cimbalino.
– Tu?! – exclama
ele. – Não podes entrar! Estamos a celebrar uma cerimónia religiosa!
Particular!
– Nesse caso, volto mais tarde. Quero falar contigo.
– O que poderei eu ter a falar com um címbalo? – pergunta,
com a porta entreaberta. Mas a curiosidade impõe-se: – Qual seria o assunto da
conversa?
Por duas vezes, denotando impaciência, Kli bate com o cajado
no chão. Fitando Fulvo nos olhos, diz:
– Os Druidas de Valmenor.
Um olhar esbugalhado estampa-se na cara de Fulvo.
– Não sei nada sobre eles! – exclama. – Nem quero saber!
Retirando-se, pressuroso, fecha a porta com estrépito.
– Oh, oh! Os Druidas chegaram quando a Terra ainda era nova!
– recita, contente, o pateta.
Samara e o estalajadeiro desceram a escada e vão em passo
apressado pela rua quando avistam o “batalhão”,
ao fundo à sua esquerda.
– Os esbirros do Príncipe! – diz Moutinho.
– Aquilo é um batalhão?!
– admira-se a rapariga. – São só cinco!
– Talvez haja mais! – diz Moutinho, com ar duvidoso. –
Apressemo-nos.
Entretanto os outros também os viram:
– Olhem! A miúda
do boticário! Com o cartaginês!
– Vão com ar apressado. Aquilo não é normal – pondera um
deles.
– Devem ir avisar o címbalo! Vamos! – exclama um terceiro; e
todos se põem a correr.
[CONTINUA]
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