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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Os Druidas de Valmenor (4)

Kli Van-Kli, "Os Druidas de Valmenor" (c) 2012 Luís Diferr


«Uma trompa! Andam a caçar, com este nevoeiro?!», admira-se Kli, virando instintivamente a cabeça. E, logo depois, quando olha novamente em frente… o vulto desapareceu! Intrigadíssimo, com o bordão a postos para se defender, o cimbalino sobe a suave colina para lá da grande árvore, aproximando-se de onde tinha visto a aparição.
– Ora esta!... Parece magia!... Ainda agora aqui estava!
Não tem tempo para mais. Da floresta às suas costas, chega-lhe uma série crescente de ruídos: « CRAC!   CRAC!   CRAC! » E, de repente, surge do nevoeiro um enorme javali que o atropela! Ele voa, rolando sobre a besta, indo chapéu e cajado pelo ar. Num ápice, o animal desaparece, levantando o restolho, enquanto ele, sentado no chão, combalido e aturdido, balbucia:
– Um... um javali!?
Mas eis que do nevoeiro saem agora cães a correr, ladrando furiosamente em perseguição do porcino selvagem. Pulam todos por cima de Kli, que se deita ao chão e se encolhe, protegendo a cabeça. Depois, fica ainda encolhido durante algum tempo, enquanto os latidos se perdem na distância. E, quando se endireita, vê um cão sentado de frente para ele, a observá-lo de cabeça inclinada, com uma expressão de indagação canina nos olhos.
– Eles foram por ali. – diz-lhe baixinho, apontando para onde a matilha desapareceu. – Por ali!... Vai! Vai!...
O cão fica impassível. Inclina a cabeça para o outro lado. Kli faz menção de se levantar, agarrando o chapéu... mas o cão rosna com ar feroz.
Abruptamente, oito cavaleiros saem por sua vez do nevoeiro, quase atropelando o cimbalino. Um Príncipe, que comanda a caçada, faz deter a companhia com um gesto reflexo. Mas, com o ímpeto, vão todos uns de encontro aos outros... e um enorme gordo, que vinha a correr na retaguarda, espeta-se contra o rabo do último cavalo.
O Príncipe vocifera irritado:
Peste de dia! Primeiro caiu este maldito nevoeiro! E agora aparece-me um címbalo[1] no caminho!
O Príncipe, de cabelo louro semi-longo e solto, ostenta um torque celta ao pescoço. É um homem de vestes ricas, que exala orgulho e arrogância. Virando ligeiramente o cavalo resfolegante, mira Kli com desprezo e diz-lhe:
– Não gostamos de estrangeiros, címbalo. Menos ainda gostamos de címbalos. E, verdadeiramente, não suportamos címbalos metediços, sobretudo se são lingrinhas!
Kli, que se levantara, agarra no cajado com ambas as mãos.
– Lingrinhas, eu?! – exclama, ofendido. – Vem cá ver se não sou robusto!
Em resposta, o Príncipe ordena ao servo gordo a pé, que está esfalfado à sua esquerda:
Tu! Castiga-me esse címbalo insolente! – E aponta Kli com displicência.
O homem, erguendo um cacete e bufando “Hu! Hu!”, atira-se a Kli, já em posição de defesa, com a potência de um gorila contra uma criança. Mas uma flecha prateada espeta-se no chão, barrando-lhe o caminho.
HU! – grunhe o gordo, detendo-se a custo.
– De onde veio a seta? – pergunta o Príncipe, contrariado. – Quem disparou?!
– Nós não fomos, Príncipe Carcavel! – respondem os homens da comitiva, em coro e algo a medo.
O Príncipe vira-se para o gordo, que está a suar, e ordena-lhe firmemente:
– Acaba o que ias fazer! E dá-lhe em dobro!
A isto Kli replica, enquanto o outro avança para ele:
– Tu é que vais apanhar em dobro!
E o facto é que lhe acerta duas boas pauladas, sem que o homem se aperceba como, uma na pança e a outra na cabeça rapada:
– Um!... E dois!
O servo, a ver estrelas, cansado e suado da correria e da pancada, derrubado por artes mágicas, cai, ofegante, com uma mão no chão e outra na barriga.
Hu! Hu! – grunhe ele, com notória incompreensão estampada no rosto.
A comitiva (com o lugar-tenente do Príncipe, um tal Javardo, ao centro) ri-se do infeliz, com escárnio: – He! He! He!... – Mas o Príncipe fita-os, irado! E logo eles baixam a cabeça, olhando em frente, como garotos que recebem uma reprimenda.
Hem! – resmungam.
Num gesto impulsivo, o Príncipe saca a sua lança e eleva-a para a cravar no cimbalino.
– Eu próprio te vou ensinar, címbalo pestilento! – grita.
Mas, nesse instante, uma flecha prateada espeta-se no cabo da lança, mesmo defronte da sua cara. O Príncipe, detendo o gesto, entre estupefacto e amedrontado, mira o vulto feminino que se distingue quinze metros à sua esquerda, de onde veio a flecha, um pouco acima de si e entre duas árvores, no nevoeiro. A aparição, a mesma que Kli já vira, num ápice arma o arco para novo disparo.
O cavalo do príncipe, nervoso, relincha e empina-se, enquanto a comitiva proclama em uníssono, com medo e excitação:
– A Fada da Bruma!
O vulto tem agora o arco em posição de tiro.
O Príncipe faz um esgar, soltando a lança. E todos eles fogem dali, incluindo o gordo e o cão, que vai a latir, com o rabo entre as pernas.
Ala, que se faz tarde! – bradam os valentes homens.
[CONTINUA]
Banner: montagem com fotografia de Stefan Soell (Femjoy)

[1] Forma desdenhosa da palavra “cimbalino”.

2 comentários:

  1. Viva!
    vi umas imagens suas sobre Lisboa e gostaria de saber se estão disponíveis em formato poster.
    obrigado
    José silva
    joseamsilva@gmail.com

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    1. Caro José Silva, infelizmente tais imagens não existem em formato poster.
      Obrigado pelo interesse e apareça sempre.

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